quinta-feira, 19 de janeiro de 2012


Uma manhã qualquer(...)


Uma manhã qualquer, sem nada de especial. Acordei cedo, coisa que raramente eu faço. Tomei um café frio, com algumas torradas. Me dirigi ao banheiro, escovei os dentes e tomei um banho bem gelado. Em seguida, sem muitas opções do que fazer daquele dia, resolvi dar uma volta pela cidade, tentar esfriar a cabeça ou pelo menos esquecer algumas coisas. Caminhei um pouco pela praça, corri alguns quilômetros e depois me sentei em um banco que ali próximo avistei. Observei as pessoas, crianças brincando, casais namorando, enfim, parecia só haver pessoas felizes. Alguns minutos depois, uma senhora que por ali passava, resolveu se  sentar ao meu lado. Aparentava ter uns 65 a 70 e poucos anos, não era muita alta, e usava trajes simples.
-5 minutos depois, aquela senhora resolveu falar comigo.
-Bom dia meu filho, como você está?
Eu acostumado a disfarçar minha tristeza com alguns sorrisos, apenas sorri e disse que estava tudo bem.
A senhora não muito satisfeita com a minha resposta, me fez outra pergunta; Você não parece estar bem, algo está lhe incomodando.
Naquele mesmo momento, fiquei em choque, meio que sem palavras… Pensei, como ela sabia que eu não estava bem? Resolvi então falar um pouco sobre o que estava me atormentando.
-Pois é, a senhora me pegou. Sabia que a senhora foi a única pessoa que percebeu isso até agora? Fico até meio sem graça de perceber que uma pessoa que mal me conhece, sabe mais do que aqueles que me rodeiam. –ele disse meio sem jeito.
-Ah meu filho, não te preocupas com isso não, já vivi muito nessa vida, e já fingi muitos sorrisos, principalmente para agradar aqueles que precisavam da minha felicidade. Mas me diga, o que lhe incomoda?
-Bom, ando meio confuso nesses últimos dias, sabe? Namorava uma pessoa, “A pessoa” pra dizer a verdade, ela me fazia feliz, e muito. Sempre gostava de ouvir as nossas musicas, adorava ouvir aquela voz linda que ela tinha, mesmo sem saber a letra direito. Adorava quando saíamos juntos, andávamos de mãos dadas, brincávamos e brigávamos por ciúmes, era engraçado, eu me divertia e era muito feliz. Ela tinha um gosto diferente para filme, odiava filme de romance e de comédia, gostava só de terror e um pouco de ação, era um gosto peculiar, mas eu me acostumei e aprendi a gostar também. Ela era carinhosa, fofa, e tinha um sorriso lindo, mas essas ultimas características eram raras nela, foram poucas as vezes em que eu á vi assim. Ela tinha um gosto de comida totalmente diferente do meu, gostava de comida chinesa e alguns frutos do mar, logo eu, odiava comida chinesa e tinha alergia a frutos do mar. Éramos tão diferentes e ao mesmo tempo tão iguais quando estávamos juntos, que esses gostos só tornavam apenas meros detalhes. Nossa, ela era tão perfeita… Como pude perdê-la? Mas como tudo tem o seu defeito, o dela era um pequeno defeito, mas o mais crucial, aquele de não demonstrar seus sentimentos e ter orgulho na maioria das vezes. Tem algo mais doloroso do que não ser tratado da mesma forma em que você espera ser? Bom, acho que não. Ando com um pouco orgulho também, não nego. Mas quando estávamos juntos, eu era o único que engolia aquele orgulho amargo e azedo que até hoje eu sinto o gosto nas paredes da minha garganta. Ah, como pude ser tão assim? Tão sei lá, já me faltam palavras pra tentar descrever o quão eu era idiota. Desculpa senhora se te fiz ouvir tudo isso, mas eu já estava sufocado com essas palavras na minha mente.
-Nossa meu filho, você estava mesmo precisando desabafar… Bem, pelo o quê eu entendi você tinha tudo, digo, tudo mesmo. –ela exclama.
-É senhora, eu tinha… Você disse a palavra certa.
-Vou lhe dizer uma coisa meu filho. Quando eu era jovem, adorava namorar, mas eu sempre tive um amor, ele me amava, mas o nosso orgulho nos impedia de nós ficarmos juntos. Passaram-se anos e anos, ele vivendo a vida dele, e eu levando a minha…  Até que um certo dia resolvi engolir esse orgulho que me impedia que se aproximar dele. Sai correndo do meu trabalho, e fui até a casa dele, que não ficava muito longe da minha. Quando bati na porta e chamei pelo o seu nome, uma mulher atendeu, e perguntou; O que você deseja com meu marido? Naquele mesmo momento meu mundo desabou, fiquei sem palavras, e pedi desculpa, disse que era engano. A parti daquele dia resolvi viver a minha vida sem ele, me foquei em trabalhar e em se preocupar comigo. Três anos depois recebo uma notícia de que a mulher dele tinha o deixado, logo de inicio não me importei, segui a minha vida. Até que um dia em uma tarde de domingo, alguém bate na minha porta, e adivinha quem era? Era ele, o cara que eu amei por anos e anos, e ainda o amava… Ele estava cansado mas mesmo sem fôlego, conseguiu dizer algumas palavras, foram as palavras certas para mudar por completo a minha vida. O que eu mais lembro até hoje foi que quando eu estava naquele dia batendo na porta dele, ele estava no quarto e disse que tentou largar tudo, e naquele momento ele se derramou em lágrimas em ver que eu estava indo embora e que nunca mais poderia voltar… Ah orgulho maldito que só faz nos afastar de quem nós amamos. Semana que vem a gente completa 37 anos de casados, e sabe onde está o meu amor agora? Em uma cama de um hospital público, em estado de coma. E sabe como foi a nossa última conversa? A gente brigando, e discutindo sobre o nosso relacionamento que não estava mais dando certo, ele saiu de casa aos berros e foi beber. E o que me dói mais é saber que ele não pode mais me ouvir, eu só queria dizer o quanto eu o amo, e o quanto ele foi especial para mim durante essa vida toda em que passamos juntos. Eu só queria uma chance, apenas uma, para dizer tudo isso. Então meu filho, não perca mais nenhum segundo longe dessa garota, você a ama, e ela o ama ainda mais, engula seu orgulho, e faça ela o engolir também. Não deixe que o tempo leve o que de mais precioso você tem, o amor. –ela sem mais palavras, abaixa a cabeça.
-Naquele momento, já com lágrimas no meu rosto eu abraço-a e digo que tudo ficará bem.
-… Obrigado meu filho, você foi a única pessoa que me ouviu nesse momento de desespero. Que irônico isso, não acha? Nós dois com problemas pessoais e justamente hoje a gente se esbarra e um ouvi o outro de um forma tão simples.
-Pare… A senhora que me ajudou bastante, obrigado pelas suas palavras sábias, eu que devo lhe agradecer por tudo, tudo mesmo.
A partir daquele momento, eu corri, corri o mais rápido possível… E sabe para onde? Atrás da minha felicidade.


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